Eu reparei que nunca falei diretamente aqui no blog sobre o que penso sobre cotas raciais. Claro nunca falei, mas quem já leu um pouquinho das coisas que já escrevi, logo vai chegar a conclusão que sou a favor. E sou mesmo!
Observo muito as coisas, as pessoas e tenho percebido que quem é contra, não parou muito pra refletir ou fez uma análise rasa, de momento, o que deixa o entendimento da questão bastante empobrecido.
Eu, você que está lendo essa postagem, não somos indivíduos que surgimos e somos a partir de nós mesmos, há uma história, um porquê de sermos quem somos, de termos determinados traços, características físicas, pertencermos a uma classe social específica, estudarmos em determinada escola. As oportunidades que temos resultam diretamente de nossa história.
O processo de escravização foi violento não só fisicamente, ele foi destrutivo em muitos outros aspectos da vida do escravo e por conseguinte na construção da história de seus descendentes. O escravo perde identidade, perde condição de gente!
O povo negro não chega à escola, ao mercado de trabalho em pé de igualdade com a maioria das etnias. Há grande desnível, desigualdade.
As oportunidades para a população negra são restritas e as escolhas possíveis a partir do que é oportunizado, acaba sendo muitas vezes um único caminho, ou seja, a escolha é baseado no que resta, no que sobra.
Um problema histórico não é resolvido em uma ou uma duas gerações, muito menos quando há por parte de significativa parcela da população (brancos e negros) uma negação quanto a existência de algum tipo de problema. Para muitos o que ocorre no presente não possui origem no passado, não enxergam como algo histórico e enraizado em nossa própria cultura.
A Lei 12.288/2010 de 20 de Julho de 2010 em seu artigos 1° e 2° institui:
Art. 1o Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial, destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica.
Art. 2o É dever do Estado e da sociedade garantir a igualdade de oportunidades, reconhecendo a todo cidadão brasileiro, independentemente da etnia ou da cor da pele, o direito à participação na comunidade, especialmente nas atividades políticas, econômicas, empresariais, educacionais, culturais e esportivas, defendendo sua dignidade e seus valores religiosos e culturais.
Gente! A lei reflete uma demanda da sociedade. Lógicamente depois de muita luta, houve reconhecimento de que algo muito grave aconteceu no processo de construção do Brasil. Segundo os próprios legisladores de nosso país houve um crime histórico e o erro precisa de alguma forma ser minimizado. Por que a resistência em reconhecer o óbvio?!
Há uma armadilha fácil de se cair que é a de repetir discursos prontos. Cair na esparrela do mérito e dizer que todos somos iguais em direitos, oportunidades e que quem não consegue um lugar ao Sol é por preguiça e vagabundagem é o que mais se ouve. É mais fácil, exige pouco refletir, mas cá entre nós essa é a verdadeira preguiça.
Entendo que não é comum a intenção de apropriar-se de determinados assuntos, quando estes não nos interessam ou não nos afetam diretamente, contudo, falar sobre o que pouco ou nada se entende é no minimo desrespeitoso.
Saia de sua zona de conforto!
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