Quando o assunto é drogas, é realmente tentador fazer aquele discurso moralista e conservador. Quem vai na onda da maioria agrada. Quem fala o que se quer ouvir é simpático, recebe aplausos fáceis, porém muitas vezes falsos.
Pra falar de drogas eu posso mencionar o açúcar, o refrigerante, o cigarro, mas não, vou falar das tais drogas ilícitas. Não vou falar das drogas usadas pelos ricos filhos de papai, vou falar do lixo que chega na favela, nas periferias. O lixo que chega para o pobre matar e morrer.
Venho aqui falar de realidade, venho aqui falar do dia a dia, venho aqui falar de desigualdade.
Você preto, pobre, periférico quando se acaba nas ruas usando drogas, quando rouba a mãe, o vizinho e morre nas mãos da polícia ou do traficante, não está fazendo nada mais nada menos do é esperado de gente como a gente.
Trabalho em um CAPS Álcool e Drogas, um serviço que atende pessoas que enfrentam problemas com uso de substâncias e reparo bem no perfil dos homens e mulheres que procuram a unidade de saúde.
A grande maioria das pessoas que por aqui passam procurando alguma forma de ajuda se parece comigo. São negros, são pobres, são da periferia. Não é coincidência!
Por que sou funcionário e não paciente? Sou especial? Melhor? Que nada, dei sorte, tive talvez em alguns momenos mais oportunidades, pude fazer mais escolhas, ainda assim, não diferente da maioria dos usuários deste serviço, a sociedade de modo geral espera de mim exatamente a mesma coisa que deles. Nada!
As oportunidades e escolhas que fazemos ditam o rumo de nossas vidas. As chances para nós pobres e humildes são as piores, mas ainda assim precisamos fazer escolhas melhores.
A fórmula mágica para quebrar essa expectativa negativa que todo o sistema tem e deseja de gente como a gente eu não tenho, mas tenho certeza que passam pela resistência e terminam na inovação e criatividade. A maioria é forte, mas só muda e revoluciona quando está unida e ciente de que fazendo diferente, fazendo o inesperado muda não só a rua, a vila, muda o mundo.
PenseaRespeito