sexta-feira, novembro 17, 2017

O Negro, as Drogas, a Rua



Quando o assunto é drogas, é realmente tentador fazer aquele discurso moralista e conservador. Quem vai na onda da maioria agrada. Quem fala o que se quer ouvir é simpático, recebe aplausos fáceis, porém muitas vezes falsos.
Pra falar de drogas eu posso mencionar o açúcar, o refrigerante, o cigarro, mas não,  vou falar das tais drogas ilícitas. Não vou falar das drogas usadas pelos ricos filhos de papai, vou falar do lixo que chega na favela, nas periferias. O lixo que chega para o pobre matar e morrer.

Venho aqui falar de realidade, venho aqui falar do dia a dia, venho aqui falar de desigualdade.

Você preto, pobre, periférico quando se acaba nas ruas usando drogas, quando rouba a mãe, o vizinho e morre nas mãos da polícia ou do traficante, não está fazendo nada mais nada menos do é esperado de gente como a gente.

Trabalho em um CAPS Álcool e Drogas, um serviço que atende pessoas que enfrentam problemas com uso de substâncias e reparo bem no perfil dos homens e mulheres que procuram a unidade de saúde.
A grande maioria das pessoas que por aqui passam procurando alguma forma de ajuda se parece comigo. São negros, são pobres, são da periferia. Não é coincidência!
Por que sou funcionário e não paciente? Sou especial? Melhor? Que nada, dei sorte, tive talvez em alguns momenos mais oportunidades, pude fazer mais escolhas,  ainda assim, não diferente da maioria dos usuários deste serviço, a sociedade de modo geral espera de mim exatamente a mesma coisa que deles. Nada!

As oportunidades e escolhas que fazemos ditam o rumo de nossas vidas. As chances para nós pobres e humildes são as piores, mas ainda assim precisamos fazer escolhas melhores.

A fórmula mágica para quebrar essa expectativa negativa que todo o sistema tem e deseja de gente como a gente eu não tenho, mas tenho certeza que passam pela resistência e terminam na inovação e criatividade. A maioria é forte, mas só muda e revoluciona quando está unida e ciente  de que fazendo diferente, fazendo o inesperado muda não só a rua, a vila, muda o mundo.

PenseaRespeito

quinta-feira, novembro 16, 2017

Cotas Raciais




Eu reparei que nunca falei diretamente aqui no blog sobre o que penso sobre cotas raciais. Claro nunca falei, mas quem já leu um pouquinho das coisas que já escrevi, logo vai chegar a conclusão que sou a favor. E sou mesmo!

Observo muito as coisas, as pessoas e tenho percebido que quem é contra, não parou muito pra refletir ou fez uma análise rasa, de momento, o que deixa o entendimento da questão bastante empobrecido.

Eu, você que está lendo essa postagem, não somos indivíduos que surgimos e somos a partir de nós mesmos, há uma história, um porquê de sermos quem somos, de termos determinados traços, características físicas, pertencermos a uma classe social específica, estudarmos em determinada escola. As oportunidades que temos resultam diretamente de nossa história.

O processo de escravização foi violento não só fisicamente, ele foi destrutivo em muitos outros aspectos da vida do escravo e por conseguinte na construção da história de seus descendentes. O escravo perde identidade, perde condição de gente!
O povo negro não chega à escola, ao mercado de trabalho em pé de igualdade com a maioria das etnias. Há grande desnível, desigualdade.

As oportunidades para a população negra são restritas e as escolhas possíveis a partir do que é oportunizado, acaba sendo muitas vezes um único caminho, ou seja, a escolha é baseado no que resta, no que sobra.
Um problema histórico não é resolvido em uma ou uma duas gerações, muito menos quando há por parte de significativa parcela da população (brancos e negros) uma negação quanto a existência de algum tipo de problema. Para muitos o que ocorre no presente não possui origem no passado, não enxergam como algo histórico e enraizado em nossa própria cultura. 

A Lei 12.288/2010 de 20 de Julho de 2010 em seu artigos 1° e 2° institui:

Art. 1o  Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial, destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica.

Art. 2o  É dever do Estado e da sociedade garantir a igualdade de oportunidades, reconhecendo a todo cidadão brasileiro, independentemente da etnia ou da cor da pele, o direito à participação na comunidade, especialmente nas atividades políticas, econômicas, empresariais, educacionais, culturais e esportivas, defendendo sua dignidade e seus valores religiosos e culturais.

Gente! A lei reflete uma demanda da sociedade. Lógicamente depois de muita luta, houve reconhecimento de que algo muito grave aconteceu no processo de construção do Brasil. Segundo os próprios legisladores de nosso país houve um crime histórico e o erro precisa de alguma forma ser minimizado. Por que a resistência em reconhecer o óbvio?!

Há uma armadilha fácil de se cair que é a de repetir discursos prontos. Cair na esparrela do mérito e dizer que todos somos iguais em direitos, oportunidades e que quem não consegue um lugar ao Sol é por preguiça e vagabundagem é o que mais se ouve. É mais fácil, exige pouco refletir, mas cá entre nós essa é a verdadeira preguiça.

Entendo que não é comum a intenção de apropriar-se de determinados assuntos, quando estes não nos interessam ou não nos afetam diretamente, contudo, falar sobre o que pouco ou nada se entende é no minimo desrespeitoso. 

Saia de sua zona de conforto!

PenseaRespeito!

Fonte: (+)