sexta-feira, novembro 20, 2009

Preconceito


Outro dia, fui eu todo pimpão buscar minha namorada no trabalho e deixei o carro na rua. No que eu volto, abro a porta pra ela, dou a volta abro a porta pra mim, entro, e no que vou ligar o carro, me vem uma mulher transtornada com o rosto todo vermelho de choro, me pedindo desculpa, porque achava que eu estava abrindo e ligando o carro dela. Ahhhhh! Tem dó né! Fosse eu um loirinho, será que ela teria tido essa impressão?!

Escrevendo isso aqui, me lembro que essa não foi a pior situação que vivi, e que julgo ser diretamente ligada a cor da minha pele.

Há alguns anos, fui com meu irmão até um banco pra ele sacar um dinheiro, e, como não tinha vaga pra parar em frente ao banco, parei na rua ao lado. Fiquei resolvendo uns exercícios de Física, na época fazia cursinho, tranqüilo e sossegado. De repente, escuto um grito falando:

- Sai do carro negrão!!

Estava de cabeça baixa, com uma lapiseira na mão olhando a apostila e no que levanto pra olhar se o negrão era eu, estou cercado de polícia por todos os lados. Tinha um na minha frente apontando o revólver na minha cara. Não entendi nada.

Saí do carro, tinha polícia pra caramba, me encostaram numa parede lá, começaram a revistar o carro e tal, e nisso vem um cara (policial à paisana), descendo a rua apontando uma arma pro meu irmão que já tava até chorando.

Revira daqui, revira de lá viram que a gente não era bandido e começa a sessão de desculpas. O pior é que olha só o que o Comandante ali disse:

- Sabe o que é? Esse banco foi assaltado ontem, por indivíduos com as mesmas características de vocês. Perdão, mas é o trabalho da gente!

Piada né? Agora vamos “pensar a respeito”. Que bandido rouba um banco e no dia seguinte volta pra roubar mais?!

Muita gente de outras etnias que lêem isso aqui, podem chegar a conclusão que é exagero, que isso poderia ter acontecido com qualquer um, seja verde, vermelho ou amarelo. De um modo geral, a gente acaba por encarar o problema e/ou condição do outro de forma mais amena. Eu não sei o porquê, mas parece que fazendo isso a vida se torna mais agradável, a realidade fica mais tranqüila. Puro engano gente. Abram os olhos. Não é menos ruim porque acontece com o outro, é ruim pra todos. Que mundo é esse onde prevalece sempre o pré julgamento, onde a todo momento tem que se provar ser melhor pra merecer nem o direito, mas a oportunidade?

Não existe pré conceito no Brasil? Pára né!

Originariamente Postado em 17 de Janeiro de 2007.

Um comentário:

Franco disse...

Certa vez eu fui abordado num ônibus em São Paulo numa blitz, quando trabalhava de office-boy. E sempre carregava comigo meu remédio descongestionante nasal (de gotas) pois tenho renite alérgica. O policial me abordou, pediu que eu me levantesse e saísse do circular, pois me enquadrava numa suposta descrição, como me foi comunicado posteriormente. Averigou meu remédio e me questionou veementemente se eu tinha "receita médica" para portar aquela medicação?! Detalhe, meu ônibus foi embora e eu com boletos na pasta para pagar... mas apesar da duplicatas e dos cheques da empresa que eu trabalhava o que surpreendeu o policial era o remédio que o "mulatinho tava carregando"!

Vai entender? Fui dispensado, com o tradicional: "esse é nosso trabalho". E voltei para o trabalho à pé pois não tinha outro passe para o ônibus, que na época era o passe de papel mesmo.

O pior é que não guardo mágua, tenho mesmo pena, pois são caras que não conseguem o respeito da população através do respeito que ele têm pela população, mas através do respeto que ele têm que impor. O falo isso tranquilo pois meu irmão foi da corporação.

Uma pena.